A possibilidade de
pronunciamento de Lavrov movimentou o Centro de Imprensa do G20. Mais de
cem jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas correram para tentar
participar da coletiva. Mas ficaram de fora.
A
Rússia sofre pressão também por falta de liberdade de imprensa O país
aparece na posição 164º no ranking de 2023 da organização Repórteres Sem
Fronteiras (RSF). A entidade monitora a liberdade do exercício de
imprensa e do acesso a informação em 180 países e territórios. A Rússia
caiu nove posições em relação a 2022, quando invadiu a Ucrânia.
Segundo
a RSF, Putin implementou uma "guerra de propaganda" para difundir o
discurso oficial e endureceu a repressão sobre veículos de imprensa
independentes, que vem sendo banidos e declarados "agentes estrangeiros"
ou "organizações indesejáveis" "Todos os outros estão sujeitos à
censura militar", diz a RSF, que contabiliza 29 jornalistas e
colaboradores da imprensa presos atualmente em solo russo.
O
país invadiu a Ucrânia há dois anos, dando início a uma guerra que
mobiliza grande parte da Europa e afeta a economia global. O conflito
completa dos anos no sábado, dia 24, e foi tema de debates nas reuniões
reservadas, entre os ministros de 30 países e 15 organizações
internacionais.
Embora
todos os jornalistas russos aguardassem há pelo menos um dia pelo
chamado para a entrevista coletiva, um diplomata russo desconversou ao
explicar ao Estadão que não poderia autorizar o acesso e a
participação de brasileiros. A reportagem do jornal foi retirada do
corredor onde os russos aguardavam a entrevista, com auxílio da
organização brasileira. Esse diplomata alegou que a comitiva ministerial
enviada por Moscou tinha permitido "somente a entrada" da imprensa
russa na sala de reuniões da delegação.
Essa
não é a primeira vez que os russos usam desse método. Durante a visita
de Putin a Brasília, em 2019, para a cúpula do Brics, o governo russo
também evitou contatos com a imprensa brasileira. Putin falou somente a
jornalistas que o acompanhavam desde Moscou.
Cobranças
A
Rússia está sendo cobrada a explicar internacionalmente a morte, em
circunstâncias não esclarecidas, do opositor de Putin Alexei Navalni,
que estava detido em uma prisão no Ártico. O caso repercute em todo o
mundo, e embaixadores russos têm sido chamados a prestar esclarecimentos
em capitais europeias. As relações Rússia e Europa se deterioraram por
causa da tomada de territórios ucranianos.
Em
Lisboa, por exemplo, o governo português recebeu uma "resposta nula" do
embaixador russo, relatou o chanceler João Cravinhos, para quem a morte
de Navalni não pode ser considerada de "importância menor", tampouco
uma "ingerência em assuntos internos", como alega a diplomacia russa.
Segundo
diplomatas europeus, o chanceler britânico, David Cameron, cobrou a
Rússia e rebateu a tese de "desnazificação", uma das usadas pelo Kremlin
para justificar a invasão do país vizinho. Ele disse que a soberania
dos países deve ser respeitada. "Matar Navalni é o que um regime nazista
faria", disse Cameron, segundo embaixadores presentes.
A
guerra na Ucrânia é considerada pelos europeus uma questão
"existencial". A delegação francesa disse, por exemplo, a autoridades
brasileiras que se sente também atacada pela Rússia e que receia de
tentativas de manipulação eleitoral e estratégias de desinformação em
massa nas redes sociais.
Na
plenária de chanceleres, Lavrov ignorou a morte do opositor Navalni, e
disse que o G20 não vai ajudar a solucionar os confrontos e verbaliza
contra o que considera "a politização" do grupo.
Lavrov
protestou contra sanções e penalidades aplicadas a seu país após a
invasão da Ucrânia e deu vazão ao discurso para tentar fortalecer o
Brics em detrimento do G7. O Kremlin argumenta que "a afirmação de uma
ordem mundial multipolar tornou-se sustentável e irreversível".
"Não creio que no G20 encontraremos soluções para os desafios e ameaças acumulados à segurança global", afirmou ele, conforme discurso divulgado pelo governo russo, focado em críticas ao Ocidente. "Nosso fórum das principais economias do mundo poderia afirmar claramente a recusa do G20 em usar a 'economia como arma' e a 'guerra como investimento'."