Camila Gama da Silva, hoje com 23 anos de idade, teve a vida virada de cabeça para baixo, como ela mesma descreve, quando descobriu, aos 15 anos, que estava grávida. Os desafios enfrentados pela jovem mãe a partir de então, só não foram maiores, porque ela contou com uma rede de apoio importante: a familiar.
Em dois anos, em 2022 e 2023, somente a cidade de Maceió registrou o nascimento de 3.732 bebês provenientes de mães adolescentes. Ao todo, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 1.860 nasceram em 2022 e 1.872 crianças no ano passado
A jovem Camila conta que a gravidez trouxe transformações na sua vida, tanto na responsabilidade de criar uma criança, como na relação dela com os pais. O bebê, fruto de uma relação de dois anos, que ela iniciou quando tinha 13, foi criado sem a presença do pai, que abandonou a paternidade logo que ele nasceu, conta Camila. Ela estava no segundo ano do ensino médio.
“A partir desse momento foi quando tudo
virou de cabeça para baixo. O genitor me deixou sozinha para contar aos
meus pais”, relata Camila, que hoje é estudante de jornalismo.
A novidade foi contada,
primeiramente para a mãe dela. “De início ficou extremamente
decepcionada com a notícia e de imediato me levou para fazer os exames e
confirmar a gravidez”, afirma.
Segundo ela, o pai dela ainda chegou a
cogitar entregar a criança, quando nascesse, para a adoção. “Ou se não
ele saía de casa. Mas a minha mãe disse que não faria isso”, diz ela.
Com isso, de acordo com Camila, a
relação com o pai dela “foi se esfriando”. A mãe, porém, estava mais
receptiva a ajudá-la. No entanto, mesmo diante das intempéries em
relação à gravidez, os pais foram seus alicerces.
Com o nascimento do filho, Camila afirma
que o avô do menino mudou o tratamento com ela. “Quando ele viu o Caio
me pediu desculpas por tudo que tinha falado e disse que a partir
daquele dia essa criança era filho dele, já que ele não tinha um pai
presente, e assim até hoje o genitor não é presente na vida da criança”,
afirma.
Para a assistente social Tereza Paes,
que atua há oito anos no Programa de Atenção Integral à Saúde do
Adolescente, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, a
gravidez na adolescência é um problema de saúde pública, mas também
questão governamental.
De acordo com a Secretaria Municipal de
Saúde (SMS), tanto em 2022 como em 2023, os bairros que mais registraram
nascimentos de bebês de mães adolescentes foram Benedito Bentes (585)
Cidade Universitária (413) e Jacintinho (379).
Tereza Paes afirma que as adolescentes
atendidas no programa disponibilizado pela SMS, geralmente, estão na
faixa etária de 14 a 19 anos. “São famílias numerosas, em condição de
vulnerabilidade social. Grande parte das adolescentes frequenta as
escolas, mas depois que engravidam elas começam a faltar bastante,
quando não abandonam. E quando têm os bebês, é muito difícil retornarem à
sala de aula”, afirma a assistente social.
A assistência social complementa que há o
contexto também das relações conflituosas dentro da própria casa.
“Muitas vezes ela convive em relações extremamente difíceis, onde ela vê
o pai bater na mãe, problemas de alcoolismo ou uso de drogas na família
e ela vive nesse ambiente. Ás vezes termina engravidando para
constituir uma outra família e fugir do meio que vive.”, expõe a
assistente social.
Esse não foi o caso da Camila Gama.
Ela disse que, apesar das dificuldades iniciais, teve o apoio da
família, continuou os estudos e hoje cursa jornalismo na Universidade
Federal de Alagoas (Ufal).