Quem nunca realizou uma compra parcelada no cartão, não é mesmo? Você, caro leitor, certamente já fez uma operação desse tipo. Ao contrário do que ocorre em outros países, no Brasil o parcelamento é comum e serve como uma importante ferramenta de consumo.
Afinal, o parcelamento permite que você possa adquirir hoje um bem para o qual não possui dinheiro disponível no momento. E muitas lojas aproveitam o parcelamento até para oferecer condições especiais, como nas campanhas “mais barato nas Casas Bahia”, por exemplo, que oferecem condições de parcelamento maiores do que as do mercado.
Por isso, o debate sobre a limitação ou até o fim do parcelamento sem juros, que começou em 2023, dividiu opiniões. Os bancos são a favor da limitação/cancelamento da modalidade, ao passo que os estabelecimentos comerciais defendem a manutenção do parcelamento sem juros.
Por isso, o texto de hoje pretende explicar como o parcelamento funciona, a diferença entre as modalidades e também se há risco do parcelamento acabar.
Entenda o parcelamento
Parcelar as compras consiste em dividir o valor total em prestações iguais que serão pagas ao longo do tempo. Como exemplo, imagine que você quer comprar uma televisão nova que custa R$ 2.000, mas não possui o dinheiro todo de uma vez.
Nesse cenário, você pode juntar o dinheiro e esperar até ter todo o valor para comprar a TV, mas até lá ela pode ficar mais cara ou nem estar mais disponível. Já no parcelamento, você pode comprar a TV agora e passar o valor em 10 vezes de R$ 200 sem juros no cartão de crédito.
Assim, o parcelamento oferece a oportunidade de adquirir hoje um bem que você teria que esperar meses para ter. Outra vantagem do parcelamento é que ele “trava” o preço do bem, o que faz com que você não corra o risco de pagar mais caro.
Isso, claro, na modalidade de parcelamento sem juros, pois existem dois tipos de parcelamento. Ambos possuem cobrança de juros, mas a diferença entre eles está em quem paga: o lojista ou o cliente.
Parcelamento pela loja
Esse é o tipo mais comum de parcelamento, no qual o estabelecimento comercial arca com o pagamento dos juros. Nesse parcelamento, o cliente paga um valor fechado, como no exemplo acima da TV de R$ 2.000 parcelada em 10 vezes de R$ 200.
O parcelamento pela loja geralmente significa que o estabelecimento arca com o pagamento. “Geralmente”, pois a loja tem o direito de decidir se vai repassar esse valor para o cliente ou se o inclui no ato da compra.
Normalmente, o parcelamento da loja é uma modalidade transparente, visto que o cliente sabe quanto está pagando e não há nenhuma cobrança extra. A maioria dos estabelecimentos adota essa modalidade.
Parcelamento pelo cliente
Também chamado de parcelamento administrativo, essa modalidade cobra os juros da transação direto do portador do cartão, ou seja, do consumidor. O parcelamento pelo cliente é uma modalidade de crédito como qualquer outra, por isso a incidência dos juros.
Um dos pontos negativos dessa modalidade é que o repasse dos juros é feito diretamente ao cliente. Muitas lojas possuem as tabelas com os juros cobrados, mas outros não dão acesso à taxa de juros cobrada, obrigando o cliente a entrar em contato com o cartão para verificar a taxa que será cobrada.
As taxas dessa modalidade de parcelamento geralmente são mais altas e operam de forma crescente. Ou seja, quanto maior a quantidade de parcelas, maiores os juros cobrados.
É o fim do parcelamento?
No ano passado, um projeto de lei aprovado no Congresso Nacional concedeu 90 dias para os bancos entregarem uma proposta para limitar os juros do rotativo do cartão ao Conselho Monetário Nacional (CMN). E uma das propostas apresentadas foi justamente limitar o parcelamento sem juros.
De acordo com os bancos, a possibilidade de parcelar compras sem juros é o que faz com que juros do rotativo do cartão sejam altas, os quais podem chegar a 415% ao ano. Isso porque a liberdade de parcelar, na visão dos bancos, contribui para manter alta a inadimplência, o que, por sua vez, aumenta os juros cobrados no rotativo.
Outro argumento dos bancos é que o parcelamento 100% sem juros não existe, pois os lojistas sempre embutem as taxas de antecipação das parcelas e os juros no valor da compra. Por isso, a limitação ou o fim do parcelamento é uma maneira de trazer mais disciplina financeira e economia para os brasileiros.
Por outro lado, os representantes dos lojistas defendem o parcelamento sem juros e utilizam dados do Datafolha, que apontam que 3 em cada 4 pessoas utilizam a modalidade para fazer compras. Eles afirmam que muitos brasileiros só conseguem consumir através do parcelamento, e acabar com a modalidade iria diminuir o poder aquisitivo dessas pessoas, especialmente dos mais pobres.
O Instituto Brasileiro do Consumidor (IBEC) defende a manutenção do parcelamento e o foco em colocar um teto nos juros do rotativo. Além disso, o IBEC afirma que é preciso investir em educação financeira para conscientizar as pessoas sobre o risco de fazer parcelamentos em excesso.
E você, é a favor ou contra a existência do parcelamento sem juros?