30 dias. Esse é o prazo inicial que a Polícia Civil de Alagoas (PC-AL) tem para manter preso Carlos Henrique Ferreira Santos, de 37 anos. Ele é apontado como um dos assassinos do blogueiro Adriano de Farias, que foi executado no dia 18 de junho deste ano, em Junqueiro. De acordo com o juiz Flávio Reyes, a prisão de Carlos Henrique é temporária e foi mantida na última quinta-feira (22) após audiência de custódia.
Sobre outros aspectos, Reyes é taxativo. “Em virtude da investigação correr sob sigilo absoluto, não é possível a publicação de mais informações acerca do caso”. No entanto, o juiz dá uma garantia. “Com a finalização das investigações, as informações serão de conhecimento público e acesso à imprensa”.
Conforme apurou a Gazeta de Alagoas, e como é característico da prisão temporária, nesse período em que Carlos Henrique está preso, a polícia deve avançar no trabalho de análise de indícios, bem como colher o depoimento do suspeito. A investigação agora se concentra, segundo afirmam fontes da reportagem, em chegar aos mandantes do crime.
Mesmo com a prisão de Carlos Henrique, algumas perguntas seguem sem respostas, ao menos para a população em geral. Perguntas como: Foi Carlos Henrique quem atirou? Quem mais estava no carro usado pelos criminosos? A quem pertencia o carro e que fim ele levou? Quais provas embasam a prisão de Carlos Henrique?
O delegado que preside a comissão que investiga o caso, João Marcello Almeida, segue a mesma linha do juiz. “Diligências seguem em sigilo para não prejudicar as investigações”, diz ele. De fato, como apurou a Gazeta, as diligências seguem, inclusive com o cumprimento de mandados de busca e apreensão.
Outra frente que a polícia aposta para chegar nos outros envolvidos no crime é a quebra de sigilo telefônico, bem como a análise do que foi apreendido após os mandados de busca e apreensão. Outra característica da prisão temporária, que foi decretada contra Carlos Henrique, é a tentativa de evitar que ele possa atrapalhar os rumos da investigação.
A suspeita de ser um crime de mando ganha força em razão de depoimentos sobre Carlos Henrique dados em outro processo que ele responde. Em um processo de 2018, no qual o então suspeito é réu e que apura crime de homicídio após sequestro em Teotônio Vilela, um primo afirmou que Carlos Henrique era “sanguinário”.
“Disse que bastava mostrar a foto dos responsáveis para o primo dele fazer algo com eles”, diz trecho do depoimento. Outro ponto levantado na investigação de 2018 e que pode ser crucial para a que apura a morte de Adriano de Farias, é de que depoimentos indicam que Carlos Henrique possui “’tentáculos’ no Estado de Sergipe, pois o carro que usaram no crime [de 2018] tinha placa do referido Estado”.
A PRISÃO
Carlos Henrique foi preso na quartafeira (21), na cidade de Teotônio Vilela, enquanto participava de uma carreata política. A prisão foi realizada pela Polícia Civil de Alagoas, por meio da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil e da 6ª Delegacia Regional de Polícia (DRP) de São Miguel dos Campos. A operação contou ainda com a colaboração da Diretoria de Inteligência da Polícia Militar de Alagoas (DINT/AL) e da Seção de Inteligência da 10ª Companhia da PM/AL.
QUEM É O SUSPEITO PRESO?
No Portal da Transparência de Junqueiro, Carlos Henrique Ferreira Santos aparece como contratado da prefeitura até maio deste ano, um mês antes do assassinato de Adriano de Farias, para a função de inspetor da guarda municipal. Ele recebia um salário de pouco mais de R$ 1.900. A Prefeitura de Junqueiro confirmou o afastamento de Carlos Henrique, mas não disse o motivo nem porque contratou para inspetor da guarda alguém que já responde por crimes como extorsão e homicídio.
HISTÓRICO VIOLENTO
No outro crime pelo qual Carlos Henrique também responde, o Ministério Público denunciou ele e outros quatro suspeitos por sequestrar um homem, em 2022, na cidade de Junqueiro. Segundo a denúncia, a vítima também foi agredida e sobreviveu porque uma viatura policial passou no local. Com Carlos Henrique foi apreendida uma pistola 9mm. A vítima foi colocada dentro de um carro e obrigada a olhar para o piso do carro. Ao chegar em determinado lugar começou a ser agredido em uma estrada. Os agressores perguntavam por uma moto.
MEDO E SILÊNCIO
Quando a reportagem da Gazeta esteve em Junqueiro após o crime, o nome de Adriano Farias parecia proibido na cidade. As pessoas que aceitaram falar pediram anonimato ou se negaram a comentar sobre o assassinato do blogueiro.
No dia 18 de junho, Adriano Farias, 33, tentava chegar à sua casa quando os primeiros tiros vieram. Estava quase na porta, no bairro do Retiro, em Junqueiro, mas não conseguiu entrar. Bateu com o carro na parede da garagem e seguiu pela rua até ser atingido fatalmente. Os criminosos emparelharam o carro em que estavam com o de Adriano e abriram fogo.
A mãe dele, Maria Eline de Farias Silva, de 77 anos, disse que pensava que eram fogos de artifício. Quando foi à rua, os disparos já tinham parado, mas reconheceu o carro e o filho.
Eline relacionou o crime a um problema com a família do prefeito de Junqueiro, Leandro Silva, de quem Adriano teria se tornado desafeto por uma relação trabalhista com um dos irmãos e pela invasão do seu terreno pela parte da mãe do gestor público, Rejane Maria da Silva. Para Eline, essas disputas teriam sido a causa, embora não possa comprovar.