Um relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, apontou, nove anos atrás, uma "cicatriz" de cerca de 90 metros no solo do povoado, o que indicava um processo de deslocamento de massa em curso. O alerta veio acompanhado da foto acima, com a área demarcada em vermelho.
“Cicatriz de deslizamento de 90m é um indicativo que o processo está [...]. A água se concentra no meio da cicatriz em episódios de chuva. Há risco de desabamento e soterramento de flutuantes próximo ao talude”, diz trecho do documento, feito após vistoria em julho de 2014.
O relatório ressalta ainda que o solo é argiloso e o local fica próximo de uma curva do rio, afetada pela erosão fluvial.
O laudo fazia parte de um levantamento do SGB sobre ações emergenciais para identificar no município de Beruri, onde fica a vila, as áreas de alto risco e muito alto risco de enchentes e movimentos de terra, que estão demarcadas em vermelho na foto abaixo.
O SGB ainda destacou que, naquela época, a comunidade, que fica na margem do rio Purus, a cerca de 6 horas de barco de Manaus, já havia sido afetada por deslizamentos, fenômeno conhecido como "terras caídas".
O documento foi feito com o acompanhamento da Defesa Civil local à época e está disponível para consulta pública no site do SGB.
O g1 procurou a Defesa Civil do Amazonas para saber sobre as providências tomadas, mas até a última atualização desta reportagem não havia obtido retorno.
Segundo o SGB, o Amazonas tem 361 áreas consideradas como de risco hidrológico e geológico. Dentre as áreas, 119 delas estão relacionadas ao fenômeno de terras caídas, incluindo Beruri.
A seca extrema que atinge a região da Amazônia pode ter agravado o desmoronamento de terra na vila Arumã.
A estiagem prolongada e fora do normal nos rios da Amazônia, que tem castigado milhares de moradores na região, está relacionada, segundo especialistas, à combinação de dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño (que é o aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte.
Apesar de os reflexos dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta: a redução de chuvas na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com isso, o início do período de chuvas, que deveria ser em novembro, vai atrasar.
A estiagem é mais grave na chamada Amazônia Ocidental, composta por Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas.
Os bancos de areia, que a cada dia que passa ficam mais visíveis e extensos, devem aumentar de tamanho com a persistência da seca. Além da navegação, os desdobramentos podem ser sentidos na pesca, na agricultura e no equilíbrio ambiental.