O projeto de lei que regulamenta a IA (Inteligência Artificial) no
Brasil deve ser votado pelo Senado antes do recesso parlamentar, que
começa daqui a um mês. Relatada pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), o
texto tramita na Comissão Temporária de IA da Casa, que foi prorrogada
até 13 de dezembro deste ano. Inicialmente, a proposta seria apreciada
em julho, mas críticas da oposição à matéria adiaram a análise.
De
acordo com a equipe de Gomes, ele pretende apresentar um novo parecer à
comissão e votar o texto no plenário antes do recesso. A expectativa é
resolver o assunto até 5 de dezembro. Até o momento, diversos pontos
estão em discussão, sendo um deles o que a oposição alega tratar sobre
fake news. A interlocutores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), um dos autores do projeto, tem sinalizado a vontade de que a
proposição seja apreciada até o fim deste ano.
Anteriormente, Gomes já havia
apresentado um substitutivo ao texto original. A proposta foi baseada no
anteprojeto elaborado por uma comissão de juristas que estudou o tema
em 2022. O projeto da IA define diretrizes para a implementação, o uso e
o desenvolvimento da tecnologia no Brasil e alega que “todo sistema de
inteligência artificial passará por avaliação preliminar realizada pelo
fornecedor para classificação de seu grau de risco”. Os conteúdos podem
ser tidos como “risco excessivo” e de “alto risco”.
A oposição,
contudo, acredita que há alguns trechos do projeto que tratariam de
temas estranhos ao objeto principal de discussão, no caso a
regulamentação da IA. Os senadores Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos
Pontes (PL-SP) alegaram que trechos relacionados ao projeto contra fake
news, por exemplo, estariam no relatório em forma de “jabuti”, quando
uma emenda não está relacionada ao mérito da proposta original.Segundo
eles, o texto não poderia ter aspectos sobre como a IA pode ser
utilizada. Além disso, que o PL da IA não pode “travar o mercado”, com
restrições que impeçam o desenvolvimento e o uso da tecnologia da IA no
Brasil, e tratar sobre direitos autorais.
Ao comentar as sugestões e críticas ao
texto anteriormente, Gomes destacou que muitos segmentos da sociedade,
que são impactados de forma positiva ou negativa pela IA, ainda desejam
novas mudanças no parecer final. Contudo, destacou que a regulamentação
deve ter caráter genérico. Assim, uma futura regulamentação será melhor
que as normas que devem ser aprovadas neste ano. Ele mencionou a
preservação dos direitos autorais usadas pela IA para criar outras
obras, por exemplo.
“Enquanto a gente
discute direito autoral, o direito presente é nenhum”, destacou Gomes.
“O ambiente atual é a pior regulação que existe: poucos mandando em
todos, sem dar obrigação para ninguém. Essa é a primeira etapa do
processo. Se as modificações não forem suficientes, vamos continuar
negociando, mas precisamos negociar avançando.” No reajuste, Gomes disse
ter excluído trechos que são “muito prescritivos que poderiam gerar
engessamento” da lei e que fez correções para dar mais clareza ao texto.
O
projeto sugere a criação de um “sistema de fiscalização híbrido”, o
qual valorize e reconheça “as nossas agências e nossos órgãos
reguladores setoriais.” O Banco Central ficará responsável por “regular e
fomentar a IA no sistema financeiro.” A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária e a Agência Nacional de Saúde Suplementar cuidarão da área de
saúde.
Já Agência Nacional de
Telecomunicações ficaria com o setor de telecomunicações. A proposta
cria ainda o Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência
Artificial, que deve criar um ecossistema regulatório coordenado por uma
autoridade competente a ser designada pelo poder Executivo.
Esse
sistema atuaria como um comitê com representantes de agências
reguladoras, órgãos estatais de regulação setorial, órgãos e entidades
de regulação de IA e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Se
houver o uso irregular da IA, o responsável pode sofrer punições, que
vão desde uma advertência, multa de até R$ 50 milhões por infração e
suspensão/proibição do “desenvolvimento, fornecimento ou operação do
sistema de IA”.
Entenda
O texto traz a Consolidação do Sistema de Governança de Inteligência
Artificial para estabelecer uma coordenação do ambiente regulatório por
uma autoridade central, permitindo a atuação especializada com poderes
de fiscalização das agências reguladoras setoriais. Além disso,
estabelece:
Previsão da criação de um painel de especialistas de
IA, a exemplo do que está propondo a ONU (Organização das Nações Unidas)
e seguindo exemplo adotado na União Europeia;
Proibição total de armas letais autônomas;
Proteção de direitos autorais para trazer parâmetros justos aos criadores de conteúdo, incluindo notícias;
Flexibilização do uso de reconhecimento facial para interesses de segurança pública e justiça criminal;
Previsão de políticas de fomento para o desenvolvimento da IA no Brasil.